sábado, 29 de novembro de 2014

Quartos - I

Minha primeira impressão era a de que Tom não passava muito tempo dentro de seu quarto. O único mobiliário do ambiente eram quatro peças em madeira branca: uma cama de casal, entre duas mesas-de-cabeceira, e uma cômoda de cinco gavetas.

A entrada do quarto ficava na parede sul. O chão era de madeira laminada. De cor pérola? Ou seria marfim? Um tapete preto no meio do quarto fazia um bom trabalho em mascarar o vazio.

Tinha uma janela na parede norte, a vista era do edifício vizinho de trinta andares. Às duas da tarde o quarto já estava envolvido em penumbra. Sob a janela um ar-condicionado e sobre o peitoril uma planta em vaso terracota e o que aparentava ser uma caixa de charutos.

Ao lado da janela, a cômoda. Sobre a cômoda, livros e uma outra planta; esta em vaso de cerâmica preto. Nas gavetas, em ordem descendente: roupas de baixo e pijamas; roupas sociais; roupas casuais e de exercício; roupas que Tom não usa há anos; e na última gaveta, a mais difícil de se abrir, roupas de inverno com cheiro de mofo.

A cabeça da cama estava encostada à parede oeste. Cinco travesseiros: dois grandes, um médio e longo e dois pequeninos. Não havia colcha sobre a cama. Tom considerava a cama feita quando cobria o lençol com o edredom. As pernas da cama faziam o tapete preto sofrer sob seu peso.

Finalmente, as mesas-de-cabeceira. As gêmeas guardavam todo o tipo de quinquilharia dentro de si e Tom nunca conseguia se lembrar o que estava em qual: pilhas, carregadores de celular, remédios. Cada uma tinha sua própria luminária preta e de metal. Mas as semelhanças terminavam quando foi o dia de se escolher em qual lado fica o vaso branco e em qual fica o despertador. Tom optou por deixar o primeiro sobre a escrivaninha próxima à porta e o outro sobre a escrivaninha junto à janela.

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