quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A Rede - I

Elisabete caminhava em direção ao ponto de ônibus quando quase trombou com o afobado menino de bochechas rosadas. Correndo, lhe faltava fôlego para dar a excitante notícia ao colega de escola.

- Você ficou sabendo? Uma nova catacomba foi descoberta! A Catacomba do Infeliz. Estava tão cheia de monstros que o implante do infeliz que a encontrou acabou fritando.
- Sim. Minha guilda já aguarda a Comissão liberar os ataques. Eu mal posso esperar. Imagine as riquezas que não devem guardar?

Falavam do Outro Mundo, o jogo de realidade aumentada mais popular da história. Lançado há cerca de duas décadas. Um MMORPG de exploração com gráficos ultra realistas, mundo embrionário e persistente. Atingiu o auge de sua popularidade há cerca de quinze anos, quando recebeu suporte para implantes neurais simultaneamente à descoberta do Reino dos Gigantes.

É seguro arriscar que Elisabete sabia do que os meninos falavam. Aos vinte e oito anos, uma moradora da Metrópole e portadora de um implante neural? Certamente passou centenas de horas da sua juventude no Outro Mundo. E de fato. Quando os homens levaram a guerra ao Outro Mundo, Elisabete e toda criança da Metrópole festejou a inclusão do jogo em seu currículo escolar - inclusão que durou cinco anos, até o dia em que caiu Rei dos Gigantes e se iniciou a decadência do Outro Mundo.

As crianças de outrora enfrentam desafios distintos no presente. E Elisabete adorava o desafio que era seu trabalho de publicitária.

Ao chegar no escritório, foi surpreendia pela excitada secretária Maria. Maria viveu toda a juventude em uma pequena cidade de interior. Trabalhava em um ritmo diferente dos outros funcionários; energética mas ligeiramente ingênua.

- Lisa, o diretor está atrás de você desde que chegou.
- O que houve, Maria?
- Um novo contrato, um contrato e-nor-me!

Elisabete sabia que o assunto era sério quando Maria utilizava separação silábica. Seguiu imediatamente em direção à sala do chefe.

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